quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Meu pai, um idoso.


Quase não o reconheço em sua fragilidade hoje, nesta manhã, enquanto esperamos parar realizar um exame de rotina. Andar lento, olhar cansado, pensamento distante... Como meu papito envelheceu!

Esta observação só foi possível porque há uns dias ele esteve dodói e fomos ao médico, foi ali que comecei a perceber sua velhice. 

Logo na recepção eu avisei que tinha 75 e me deixaram acompanhá-lo. Foi tão estranho. Aquele homem que me carregava em seu ombro enquanto voltávamos da igreja, aquele mesmo homem que me pegava no colo quando eu chorava, aquele homem, o mais forte do mundo... Agora está idoso e precisa da minha companhia para entrar no consultório.

Lembro-me como se fosse ontem de muitos momentos em que era forte e ativo, e aqui, sentada ao seu lado, esperando, tento imaginar o que passa na sua cabeça, com esse olhar tão distante.

Ser pai não deve ser tarefa fácil, a sua postura deve sempre ser a de força, e ver-se assim, frágil, não deve ser agradável. Envelhecer também deve ser muito difícil, ver saindo de você a força de toda a sua vida... 

Escrever sobre isso me deixa emotiva, porque ele sempre foi meu herói. 

Lembro de quando íamos ao mercado e eu era adolescente, em frente a nossa casa tinha um morro, e corríamos juntos... Ele sempre ganhava! Eu corria bastante mas nunca o alcançava. Eu achava o máximo! Ano passado tentamos e eu o venci, rs, então me disse: "ah... O pai tá velho".

Meu pai sempre foi aquele pai presente, presente mesmo. É amigo, conselheiro, carinhoso, minha mãe sempre diz sobre suas qualidades como pai, sei que isso sempre ajudou, ela também é responsável pela admiração que sinto por ele, procuro fazer o mesmo na relação dos meus filhos com meu marido. 

Nunca o vi doente quando eu era criança, nem adolescente, nem mesmo adulta. Nem quando começou a frequentar mais o médico, quando começou a envelhecer, eu não notava, estava vivendo minha vida, cuidando das minhas tantas atribuições... 

Lembrei agora que ele as vezes pedia que eu marcasse consulta com esse ou aquele especialista, eu quase sempre me esquecia... Como ele ainda era bem forte e ativo, só reclamava comigo, rs, dizia bravo: "é, você esquece, você sempre esquece!". Eu ainda rio ao lembrar disso porque ele ficava realmente bravo e eu também ficava com ele. Queria que eu agendasse consultas, exames, mas minha vida era muito louca, eu não tinha tempo... (Ainda não tenho) não enxergava a sua velhice, estava apenas se cuidando, e eu o via muito forte. Hoje, se eu esquecer de lhe dar algo de que necessita, provavelmente vá me dizer apenas: "tudo bem, filha, depois a gente vê isso". 

Meu pai foi um filho impecável, talvez tenha sido até demais, fazia tudo pelo meu avô, cuidou dele até o último dia de vida... não chego nem perto disso no quesito cuidado, e sinceramente não serei boa como ele foi, mas aqui, na fila de espera para um exame, me passou que agora preciso cuidar do meu herói. 

Hoje ele está meio abatido porque se recupera de uma gripe, sei que em breve estará bem melhor, mas talvez seja essa a nova vida do meu papito, a de um homem que precisa de mim e dos demais filhos o tempo todo.

(Este texto foi escrito em dois momentos)

Aqui, esperando o momento da tão esperada consulta (sim, consulta. Era exame pela manhã, e agora estamos novamente neste lugar de espera), vejo outro idoso. Está sentado bem à nossa frente, sozinho. Não tem telefone pra contato, disse à recepcionista, fala com dificuldade, não ouve mto bem... Isso me partiu o coração. Onde estamos nós agora em que nossos pais estão precisando da gente? 

Cadê aqueles filhos que diziam "eu te amo pra sempre" quando eram crianças?

Reflito sobre essa nova realidade e vejo que na verdade é um presente. Cuidar de quem sempre cuidou tão bem de mim, é uma honra, porque meu pai agora é idoso.

Te amo, Papito❤️


(Edição)

Após a publicação deste texto, uma querida me fez lembrar que nem sempre os filhos podem acompanhar seus pais nas tantas consultas, e que embora a lei determine que o idoso tenha um acompanhante, não há leis que facilitem a vida dos filhos para estarem com seus pais, o que torna simplesmente impossível ajudá-los, pois não há abono e o custo de um cuidador é altíssimo. 

Assim, temos um problema muito maior.  Obrigada Suzana, por sua contribuição❤️.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Next Gen - Vamos falar da raiva?

Como você lida com ela, a raiva? É difícil controlar a nossa própria, e é muito mais complicado suportar a alheia.  (Contém spoiler) Gerir a...

Filme Divertida Mente